19/12/2023
Reforma Tributária trará incertezas para a economia do País já a partir de 2024
Texto aprovado na Câmara dos Deputados mantém impactos
negativos para o empresariado e os contribuintes, como aumento de tributos e de
burocracia, além de prejudicar competitividade dos pequenos negócios
Mesmo depois de uma longa
tramitação entre as duas casas do Congresso Nacional, a Reforma Tributária (PEC
45/2019), agora perto de ser sacramentada pelo governo, significará um
cenário de incerteza ao país já a partir de 2024. O texto final foi lido e
aprovado na Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (15) sem alterações
significativas no escopo que já havia passado pelos senadores em meados de
novembro.
Como a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
(FecomercioSP) vem afirmando, a reforma
ainda suscita muitas dúvidas aos contribuintes e ao empresariado de
todos os portes e segmentos, principalmente porque pontos essenciais serão
regulamentados, a partir de agora, por meio de leis complementares.
Uma dessas incertezas é sobre a alíquota do IVA — que, se ficar como previsto
pelo próprio Ministério da Fazenda, será
o maior do mundo: 27,5%, superando a Hungria (27%). Ainda que o escopo
aprovado na Câmara tenha mantido uma trava a elevações futuras de arrecadação,
ela não é suficiente para mudar uma conjuntura de curto prazo em que empresas
e contribuintes paguem mais tributos (e mais altos).
A alta da carga tributária foi uma discussão presente em diferentes propostas
de reforma ao longo dos últimos anos e, por isso mesmo, tem sido uma crítica
constante da FecomercioSP neste período. Desde que a tramitação da PEC 45/2019
avançou no Congresso, esse apontamento se manifestou em diversas oportunidades
– tanto publicamente, na imprensa e em debates
organizados pela Entidade, quanto em reuniões com parlamentares, lideranças do
Executivo e partidos políticos. Não é uma preocupação trivial já que, hoje,
os tributos correspondem a quase 34% do PIB do Brasil.
Judicialização
Em suma, apesar de aprovada, a nova legislação ainda não está pronta. Mais do
que isso, não fornece garantias de que será possível atingir o principal
objetivo de uma reforma tributária almejada há pelo menos três décadas: a
simplificação da estrutura arrecadatória brasileira. A consequência desse
cenário será um aumento
imediato da judicialização, na medida em que a reforma eleva a insegurança
jurídica sobre procedimentos tributários de empresas e contribuintes.
Setor de Serviços será afetado
No médio e no longo prazo, porém, os efeitos serão principalmente sobre o
principal setor da economia brasileira: os
Serviços, que terão de suportar tributos mais altos, já que o IVA, que
possibilita o “creditamento” de tributos pagos em etapas anteriores da cadeia
produtiva, manterá uma sequência complexa de débitos e créditos para esses
empreendimentos, cuja principal despesa é com folha de pagamento (40% do
orçamento), que não dá direito a esses créditos.
Isso resultará em queda de investimentos e em redução de empregos justamente no
campo que mais gerou vagas formais ao longo de 2023 e que corresponde a 70% da
produção do país. Considerando o peso desse setor para o Produto Interno Bruto
(PIB), é de esperar que esses reflexos sejam vistos, daqui alguns anos, no
próprio desempenho econômico do país.
Simples Nacional perderá competitividade
Micro e pequenas empresas, que dão a tônica do dia a dia da economia, também
estão sob risco a partir de agora, já que há um novo
regramento para transferência de crédito nas aquisições de empresas
optantes pelo Simples Nacional. Na atual legislação, esses negócios podem
transferir integralmente os créditos de PIS/Cofins no montante de 9,25%. A
reforma, porém, restringe a transferência de crédito ao montante cobrado no
regime unificado. Isto é, negócios de pequeno porte terão, agora, duas opções:
ou se manter integralmente no Simples Nacional, mas com perda de
competitividade, ou excluir os novos tributos no regime diferenciado e, então,
assumir uma carga tributária maior.
Longa transição
A FecomercioSP
ainda se preocupa significativamente com o longo período de transição, que
fará com que os contribuintes passem por sete longos anos convivendo com dois
sistemas tributários simultâneos. A proposta também altera tributos que
não incidem sobre o consumo, como o Imposto sobre a Propriedade Predial
Territorial Urbana (IPTU), por exemplo, que permite às prefeituras alterarem a
base de cálculo do imposto por decreto, e que poderá ensejar elevação da
tributação sob os imóveis.
Há,
contudo, pontos positivos. Um deles é a já citada “trava” que impede que os
novos tributos criados — IBS, CBS e IS — resultem em uma carga tributária
superior aos tributos substituídos (PIS/Pasep, Cofins, IPI, ISS e ICMS).
Algumas atividades dos Serviços também poderão ter redução de até 60% nos
tributos, além da inclusão de uma nova alíquota reduzida, no percentual de 30%
para profissionais regulamentados, como contadores.
A manutenção de regimes específicos para outras atividades, como nos
serviços de turismo. Contudo, um aspecto positivo incluído pelo Senado Federal,
a possibilidade de adoção de regime específico para bens e serviços que
promovam a economia circular, está entre as exclusões promovida pela Câmara dos
Deputados.
Outro ponto suprimido pela Câmara que era positivo ao comércio e à sociedade
como um todo, é com relação a cesta básica estendida, que permitia a inclusão
de outros produtos alimentícios com redução de 60% da alíquota de
referência.
Reformas e equilíbrio fiscal
Na visão da FecomercioSP, seria mais salutar se, em vez de prosseguir com uma
mudança na legislação que diminuísse os tributos dos setores mais onerados, o governo
avançasse em medidas para reduzir os próprios gastos. A Federação e os
sindicatos filiados defendem uma reforma sem aumento de carga e que promova
simplificação, modernização e desburocratização do sistema tributário.
A legislação atual, fruto de debates há três décadas, penaliza o empresariado e
prejudica o ambiente de negócios. Entretanto, é importante que essa mudança
aconteça preservando os pilares da economia do Brasil, e não os enfraquecendo.
Para isso, a Entidade
continuará levando esse posicionamento aos parlamentares no Congresso Nacional.
FECOMERCIO SP
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